Após grande sucesso ao ser lançado em 2016, o longa-metragem O Shaolin do Sertão ganhou uma segunda edição. Nas telas de cinema Brasil afora -e, certamente, até mesmo em outros países- novamente serão destacados as paisagens e o modo típico de viver dos cearenses, com seus sonhos e batalhas diárias. As gravações iniciaram em Quixadá, passaram por Aquiraz e nos últimos dias desembarcaram em Fortaleza, onde o site No Ceará é Assim acompanhou de perto e conversou com grandes nomes como Edmilson Filho, Priscila Fantin, Marcelo Serrado, Falcão, Fábio Goulart, Bolachinha e, claro, o diretor, premiado cineasta e idealizador de toda essa trama, Halder Gomes. O elenco conta, ainda com Fafy Siqueira, Dedé Santana, Marcos Veras, Haroldo Guimarães, Igor Jansen, Solange Teixeira, Aya Matsusaki, João Pedro Pimenta e o ator mirim revelação João Pedro Frota.
O Shaolin do Sertão 2 será ambientado nos anos 1990, onde o protagonista Aluízio Li já não é mais o grande dragão do sertão. Afundado em dívidas, vê sua academia “Gêmeos por parte de pai” ser confiscada pelo banco, dentre tantas outras adversidades que não param de acontecer em sua vida. A vontade é de deixar tudo para trás e ir em busca do seu pai, na China, um sonho acalentado por Aluízio, que não tem dinheiro sequer para ir de Quixadá até a vizinha Quixeramobim.
Até que ele recebe uma proposta ousada de um empresário de lutas, protagonizado por Marcelo Serrado: fazer dez lutas consecutivas itinerantes e classificatórias para o maior desafio de sua vida e do mundo das artes marciais. Era o que Aluízio precisava para retomar sua autoestima e levantar dinheiro para se reerguer. No meio dessa aventura, ele terá inúmeros contratempos. Com espírito guerreiro, ele reúne sua trupe – Piolho, Chinês, Micróbio, Jesus, MZ e Tora Pleura – e parte para os desafios do “Chiba Effect”.
Quem começa contando mais novidades dessa segunda edição é Halder Gomes. Ele diz que desta vez o herói Aluízio Li (Edmilson Filho), um aficionado por artes marciais, vive em um outro momento de sua vida. “Passaram-se dez anos desde quando o primeiro filme foi feito e muita coisa mudou na vida do personagem. Novos personagens estão chegando à história, e o desafio dele agora é outro, na verdade é por outros motivos. Agora não é só a questão da luta em si, tem outra jornada que eu quero deixar para os espectadores saberem (no cinema), mas que vai devolver a ele o desejo de voltar a lutar”, avisa, sem dar muitos detalhes.
Todavia, Halder adianta que esse desejo latente que Aluízio Li tinha perdido, volta agora com muito impulso. “E isso torna o filme muito mais intenso, mais dinâmico e muito mais complexo na sua execução do que o primeiro”, antecipa. “Mas é uma história que segue aqui no Ceará e expande os horizontes. Ele transita na nossa geografia, mas sai também para o Oriente e vai ao Japão. A história é muito dinâmica e bastante instigante, e o restante dela eu quero deixar o espectador ver quando estiver no cinema”, completa.
Embora as gravações estejam nos últimos dias, ainda deve levar pelo menos mais um ano para O Shaolin do Sertão 2 chegar às telas de cinema. “Filme demora. As pessoas não têm noção do quanto demora. Sempre faço uma metáfora: filmar é levantar um prédio, o resto é acabamento. O acabamento é um negócio que, dependendo da qualidade que você quer dar, ele pode demorar dez vezes mais do que subir o prédio. E o acabamento desse filme, a qualidade da pós-produção que eu quero fazer, pede isso”, explica.
Um monge Shaolin no meio do sertão cearense
A habilidade de Edmilson Filho com as artes marciais dá a autenticidade necessária ao personagem Aluízio Li. O ator é faixa preta e tricampeão brasileiro em taekwondo. A parceria com Halder Gomes é antiga. Edmilson treinava na academia de taekwondo do diretor, em Fortaleza, e já fazia números de comédia no local de treino e fora, onde arrecadava dinheiro para participar de torneios.
Sobre O Shaolin do Sertão 2, Edmilson fala da cobrança por remake sempre existente, após o grande sucesso do primeiro lançamento. “Estamos quase 10 anos depois, então esse é um filme muito esperado pelo público. Todo mundo adora o universo do Shaolin do Sertão”, conta. “Aonde eu vou, a primeira coisa que as pessoas falam é Shaolin, Shaolin, Shaolin. Eu acho que o público tá esperando uma coisa muito legal, melhor até do que foi o 1. E a gente tá preparando um filme à altura”, garante.
Além do Shaolin do Sertão, Edmilson Filho já fez diversos filmes como Cine Holliúdy, Cabras da Peste, Bem-vinda a Quixeramobim e muitos outros, sempre aliando o bom humor cearense ao talento que lhe é nato. “Hoje, para mim, é quase que uma obrigação. Todo mundo espera que os personagens sempre venham como personagens cearenses, nordestinos”, diz, garantindo se divertir com a situação.
“Eu tenho o maior orgulho do mundo de fazer o meu trabalho. Não só com os personagens, mas também por trazer as produções aqui pro Ceará. Acho que isso é o mais importante. A gente tá gerando emprego aqui, trazendo pessoas daqui, altamente qualificadas. Não é só levar a nossa arte pra lá, mas que venham buscar aqui. Nós estamos aqui pra fazer isso”, relata.
Outro cearense com nome de peso e presença constante nas produções de Halder Gomes é o cantor, ator e humorista Falcão que tem na vivência com “os cabras do interior” a fonte de inspiração para a comédia marcante de seus personagens. “Desde menino que eu gosto muito desse tipo de marmota. A família toda era cheia de cabra marmoteiro e fui crescendo com essa vontade de fazer alguma coisa na área cultural”, lembra. “Comecei com a música e com o humorismo. Depois, o Halder me chamou pra fazer cinema e pronto, estamos aqui. Praticamente hoje em dia eu sou uma espécie de Frank Sinatra, que era cantor e ao mesmo tempo era ator”, compara.
Amor trambiqueiro, ou nem tanto?
No enredo a atriz Priscila Fantin fará par romântico com Edmilson Filho. Em conversa com o site No Ceará é Assim ela falou sobre sua personagem. “Ela chega na trama para passar a perna em Aluízio Li, mas depois que ela o conhece, começa a mudar de ideia, vai mudando ao longo do filme, e no final acaba praticamente salvando Aluízio”, antecipa.
Priscila revela que essas mudanças a agradam, representando, na prática, um grande desafio para quem faz arte. “Essas camadas dela me atraíram muito. Acho muito interessante quando a personagem dá a chance da gente mostrar diferentes nuances na mesma personalidade. Então tem sido uma delícia fazer esse papel, não só pela interpretação da história dela em si, mas por todo esse contexto de caracterização, como podem ver aqui, na maquiagem, no cabelo que a gente brinca muito, e com o figurino”, conta, enquanto sua equipe dá os retoques finais antes dela entrar no set de gravação. “Minha personagem é um ponto de alegria, de cor, de suspiro no meio da trupe predominantemente masculina que o filme traz”.
O ator Marcelo Serrado é outro grande nome no elenco de O Shaolin do Sertão 2. Ele atua no papel do Demóstenes, um vigarista, promotor de lutas itinerantes. “É um trambiqueiro. Na verdade, serão três trambiqueiros. Lembra um pouco o Bye Bye Brasil. Esses caras que saem com a Kombi, fazendo armação pelas cidades. E aí, encontram o Shaolin, eles querem contratá-lo para uma luta e assim a história se desenvolve”, conta o ator que se mostra bem familiar com o Ceará. “É a terra da minha mãe. Então me sinto em casa”.
O personagem de Serrado terá um grande aliado: o comediante e ator cearense Bolachinha, que fará o personagem Eustáquio. “É um vigarista que se junta com o Demóstenes e com a Jucimara, personagem da Priscila Fantin. Seremos três vigaristas que querem usar o Shaolin para ganhar dinheiro em cima dele”, fala.
Mas, no final, a coisa não deve terminar bem para eles. “Só que dá tudo errado. A casa cai e eu e Demóstenes temos que capar o macaco para não sermos presos. Isso porque depois de tudo a Jucimara se apaixona pelo Shaolin e bota nós na cadeia. Pra nós o final feliz vai ser na cadeia”, revela.
De vilão a treinador
No O Shaolin do Sertão 1, os dias de paz de Aluízio Li acabaram quando o ex-lutador de vale-tudo Toni Tora Pleura (Fábio Goulart) entrou em cena. Mas desta vez Goulart garante que vai ser diferente. “Antes eu era o bandido. Agora eu sou o técnico do Aluízio”, diz o ator.
“Passado um tempo a gente volta a se encontrar. Ele tá muito ruim, muito triste, e eu tô também acabado, levei chifre, tô sem grana, sem nada”, relata, sem dar mais detalhes, mas assegurando uma coisa: ama o Ceará. “Eu não venho só para a gravação. Sempre venho um mês antes. Ano passado, por exemplo, gravamos aqui o CIC, que é a Central de Inteligência Cearense, e eu vim antes. Gosto de passar as férias aqui com a minha família. Vamos ao Beach Park e às praias. Para mim, Fortaleza é uma Santos grande”, brinca comparando a capital cearense com a cidade paulista de Santos, onde mora atualmente.